09/01/2017

Sobre Morte'

Sendo observado pela luz da lua ele olhou a rua, deu o ultimo adeus na internet, andou ate a beirada e correu ate a outra ponta e pulou, viu a cidade mergulhada na luz artificial, em vez da escuridão de Deus, aos poucos foi sentido o fio que tece a vida ficando fino, o fio da vida dele em especial, ao se chocar contra a agua ele afundou, bateu os joelhos no fundo da lagoa, viu a lua, sua melhor companheira, sumir e o sol surgir, viu os carros passando sobre a ponte, as pessoas correndo andando caminhando, bicicletas ônibus carros caminhões, a sombra da ponte sob a agua, viu outras pessoas pulando e como ele ficando ali para observar a ponte, claro que seu corpo já a muito tinha sido levado pela família, mas ele continuava ali, olhando a vida continuar, a cidade subir, prédios mais altos crescerem, a ponte ser renovada, arvores enormes centenárias subsistidas por guardas sol, viu as folhas das arvores caindo, a neve pintando tudo de branco, pessoas patinando pelo gelo do lago, viu as cores voltarem, flores para todo lado, a temperatura subir, as folhas das arvores mudando de cor, viu o mundo continuar sem ele, e entendeu que nada dura, tudo tem seu tempo, estar vivo deve ser uma alegria não sofrimento, e se você sofre e tenta por fim na vida, como castigo é ser condenado a ver o seu próprio sentido.

Blue cigarette'


(...) Era época de natal, a cidade estava toda enfeitada, havia promoções por todo lado, a temperatura mais baixa que nunca. Eu estava sentado perto de uma janela, olhando o reflexo da lua sobre o mar, era um dos poucos lugares aberto as três da manhã naquela cidade, café Holandês, estava quase terminando quando vi alguém subindo pela ponte, continuei minha bebida até perceber que a pessoa na ponte tinha parado na parte mais alta e que estava perto demais da borda. Sai apressado do restaurante, chegando lá, vislumbrei aquele jovem, ele devia ter entre dezoito e vinte anos, a pele clara cabelo curto e loiro, usava tenis e calça preta com um moletom.
- Hey!! - disse eu
Quando ele virou me impressionei, a blusa preta tinha uma foto em Preto e Branco de um leão lambendo uma leoa, e o garoto, tinha os olhos cinza mais lindos que eu já tinha visto na vida.
- Se chegar mais perto eu pulo - os olhos pareciam a ponto de estourar.
- E precisa mesmo que eu chegue perto pra você fazer isso ??
Ele prendeu o ar e encarou a beirada, deu pra perceber que ele estava segurando um mundo de, depois me olhou nos olhos, no mesmo momento peguei do bolso da blusa o maço de cigarros o isqueiro e acendi um, depois sentei na beirada da guia.
- Afinal, porque quer tanto morrer - perguntei eu enquanto um fio azul de fumaça saia da minha boca.
 Ele enrolou um pouco, eu traguei o cigarro algumas vezes então ele finalmente sentou do meu lado, ai respirou fundo e começou:
- Meu melhor amigo se matou semana passada, nessa mesma ponte, e ninguém se importou, não saiu em jornais, revistas ou até mesmo em algum canto da internet, e acredite, eu revirei aquilo.
Eu encarei nos olhos - Então você pretendia se matar porque esse seu amigo escolheu tirar a própria vida e ninguém se importou com o fato ??
- Você é igual aos meus pais - ele baixou a cabeça
- Então me convença que você não é idiota e prometo fazer algo de bom pelo seu amigo.
Aqueles olhos cinza me encararam, senti o whisky se revirando no meu estômago , dei a ultima tragada no cigarro e encarei ele, ele ficou levemente vermelho, virou os olhos pro lado e começou: "Fazia dois meses que eu conheci essa menina, Naomi, claro que só a conhecia pela internet, ela tinha a mesma idade que eu e tínhamos muito em comum, eu vivia falando dela pro meu amigo. Numa noite, depois de uma festa, eu e ele voltávamos bêbados pra casa, no caminho ele caiu e eu apoiado nele fui junto, rimos e ai trocamos o olhares, o meu olhar era de riso de felicidade, mas o dele, era diferente disso - O garoto de olhos cinza prendeu e respiração olhou pra cima, segurou uma lágrima, por causa do frio, deu pra ver a fumaça branca saindo da boca e das narinas - Então ele me beijou... minha mente dizia não, mas meu corpo...
Levantamos rápido, olhamos pra ver se tinha alguém na rua e corremos pra minha casa... pra minha cama. Fizemos a noite toda, beijos, caricias, palavras sujas, de tudo. O sol nascia quando dormimos, era tarde quando ele me acordou com pães e café forte, então me contou sobre Naomi, que era ela na verdade ele. Eu juro que se eu pude-se - as lágrimas saiam dos olhos dele, o garoto de belos olhos cinza soltava pequenas gotas salgadas que refletiam eu ele a rua e a lua - Eu fui pra cima dele, e bati nele, bati com toda força que eu tinha, bati até ter o sangue dele nas minhas mãos... Ele não revidou nenhum golpe. Quando ele desmaiou, eu arrastei ele pra fora do meu apartamento e deixei ele lá... estirado... como um rato na rua. Eu subi, tomei café e observei ele levantar olhar ao redor e sair correndo, achei que ele ia pra casa cuidar dos machucados. Mas me enganei. No dia seguinte, enquanto o céu caia e eu ficava em casa de ressaca, a mãe dele me ligou falando sobre velório, ele morto... Na hora não liguei os pontos, mas depois, quando vi ele com os machucados e inchado de água, morto num caixão - ele respirou fundo, as mãos cobriram os olhos, a boca tremula, soltava gemidos profundos, uma alma sem futuro.